As cidades brasileiras enfrentam uma convergência de crises ambientais, sociais e econômicas que torna a implementação de práticas sustentáveis não apenas desejável, mas absolutamente essencial para sua viabilidade futura. Com mais de 85% da população brasileira vivendo em áreas urbanas, nossos centros urbanos concentram simultaneamente os maiores desafios ambientais e as melhores oportunidades para soluções inovadoras. O modelo de desenvolvimento urbano predominante no Brasil, caracterizado por expansão descontrolada, dependência excessiva do transporte individual motorizado e negligência com áreas verdes, atingiu seus limites ecológicos e sociais. Eventos climáticos extremos, como enchentes devastadoras e ondas de calor recordes, não são mais anomalias, mas manifestações recorrentes de um padrão urbano insustentável que exige transformação urgente.
A sustentabilidade urbana transcende considerações puramente ambientais, representando uma estratégia integrada de desenvolvimento que pode simultaneamente melhorar a qualidade de vida, reduzir custos públicos e estimular a inovação econômica. Investimentos em transporte público de qualidade, edificações energeticamente eficientes, sistemas de gestão inteligente de resíduos e infraestrutura verde não apenas reduzem a pegada ecológica das cidades, mas também geram empregos, atraem investimentos e melhoram indicadores de saúde pública. Cidades como Curitiba e Medellín demonstraram que é possível combinar crescimento econômico com sustentabilidade ambiental e inclusão social, criando modelos replicáveis que desafiam a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental.
A transição para cidades sustentáveis exige, entretanto, uma mudança paradigmática na forma como concebemos o planejamento urbano, superando interesses setoriais de curto prazo em favor de uma visão integrada e de longo prazo. Isso implica fortalecer a participação cidadã no planejamento urbano, implementar sistemas de governança metropolitana mais eficazes e desenvolver mecanismos financeiros inovadores que tornem viáveis investimentos em sustentabilidade. O momento atual é crítico: as decisões de infraestrutura tomadas hoje determinarão a trajetória de sustentabilidade das cidades brasileiras pelas próximas décadas. Não podemos mais nos dar ao luxo de postergar esta transformação, pois o custo da inação – em termos ambientais, sociais e econômicos – supera em muito os investimentos necessários para construir cidades verdadeiramente sustentáveis.
